domingo, outubro 22, 2006

Casa. Qual a definição que temos para "casa"?



"Casa é aquele lugar onde os móveis lhe reconhecem", diz o Veríssimo. Mas vale o contrário, também; quando olhamos para um detalhe de algum lugar e ele deixa de ser um mero detalhe, passa a ser lembrança. Pois uma casa é uma extensão de você, do que você pensa, do que você sente.

Mesa? Deixa de ser um móvel. Pode ser um velho amigo de momentos inesquecíveis, bons ou ruins; ou companheiro de vários momentos da mais singela irrelevância, como só os bons amigos são.



Em casa temos portas, passagem para outros ambientes, cada um com seu clima e espírito; passamos por elas para ficarmos no canto onde nos sentimos melhor de acordo com o momento: frio, calor, escuridão, claridade, alegria, tristeza, arrebatamento, reflexão.


Temos janelas, e nos vidros podemos ver o reflexo do nosso rosto, mais ou menos conhecido, dependendo de como o dia nos tratou; podemos olhar para fora, e ver como está lá fora, ou quem está lá dentro, o que fica, o que passa. Imagens vêm e vão por elas. Algumas nunca mais vão.



Em uma casa pode haver um canto de fé; nele existem santos, retratos ou objetos, não importa; eles estão ali, reunidos, para trazer algum conforto ou esperança, no alcance de um olhar. Um lugar para esquecer da vida ou pensar intensamente nela; para solucionar problemas sob lágrimas ou para arrumar outros em chuva de risadas. Onde convivem os problemas e as soluções, seu pequeno altar de intensidades.



Temos a decoração, também; aqueles montes respingos de alma que a gente vai pendurando na parede. Quadros, retratos, vale tudo para trocar o vazio do reboco por alguma coisa que fale um pouco sobre que mora ali. É como dizer "sou assim", mas sem precisar gastar palavras.



Cultura também é importante. Trazemos palavras novas para dentro de casa e das nossas vidas, através da leitura...


...e reservamos um canto para a música, pois vida tem de ter trilha sonora.



Em casa temos aqueles que nos olham com a profundidade dos atentos.


Temos pilares que nos sustentam.


Mas a vida segue. Como uma espiral, dando voltas, sempre retornando, mas nunca no mesmo lugar de antes. Geralmente evoluindo, apesar de discordarmos às vezes do destino, esse velho sádico. E uma nova casa se faz necessária.
Que a despedida seja em grande estilo, então. Hora de chamar os que cuidam da casa.



Convocamos os amigos para a festa, aqueles que vêm de vez em quando, ou que cruzam as portas sempre que as mesmas estão abertas.




Conversas e sorrisos passam sob o olhar das luzes que tantos momentos iluminaram.






Quem é da casa aguarda a hora dela se encher com as músicas que ali fizeram uma vida.






Dos locais mais gelados saem os aditivos que irão esquentar a noite.



E a casa é preenchida pelo que sempre foi a sua alma: a música. Luzes dançam no ritmo junto com as pessoas da casa, que cantam de olhos fechados mas enxergando como nunca. Cores, ritmos, suor e transe. A festa começou.









Um espelho reflete o que sustenta a casa, fisicamente ou não.


Maestros regem a dança dos sentimentos que preenchem o local junto com a fumaça dos cigarros.



A noite corre rápida. Alguns precisam deixar a festa antes.


E as horas seguem. E o sol dá a senha que a última das noites começa a acabar.




Hora de começar a esvaziar a casa, pela última vez.



Hora de reparar nos detalhes que vão deixar saudade.


Hora de parar e pensar em tudo que ali se passou, e imaginar o que ainda virá.


Mas ainda podemos deixar o sol como convidado, olhando de fora, e ter os últimos momentos na casa com as pessoas que dão alma à ela.





Hora de gravar na retina dos olhos momentos que nunca mais esqueceremos, e que as lágrimas não vão conseguir lavar.





Hora de quem construiu a casa olhar de cima tudo que ali se passa, em últimos flashes, e lembrar de todos os momentos que ali aconteceram, e saber que tudo valeu a pena.


Mas uma hora, tudo acaba. Hora de sair pela porta, pela última vez, e ser recebido pelo sol que lá fora nos espera. E indica que o futuro, na próxima casa, tem tudo para ser luminoso como a última manhã que acabou de surgir.


Saímos da casa pela última vez. Mas ela nunca mais sairá de dentro de nós.

Vox da Ébano Pereira. A segunda casa de muita gente. Para sempre.

6 Comentários:

Blogger Yuppie disse...

caraca Marcio !
Que belas fotos ! E que belo texto !

10/24/2006 4:46 AM  
Blogger Fabi Ormerod disse...

Kako as fotos ficaram show de bola e o texto idem. :-) BJUS

10/24/2006 5:07 AM  
Blogger Lala disse...

Tá maravilhoso, essa casa não sairá da memória de ninguém. E que venha a nova casa da genteeeeeeee!!!!!!!

10/25/2006 3:01 PM  
Blogger Unknown disse...

Segue o baile, segue o baile, não para, não para.... Novos capitulos iniciam-se... daqui para lá e de lá para cá... sugiro um brinde de champaghne para o novo... nova casa novo movél... e blá,'blá,blá...

10/25/2006 4:59 PM  
Blogger Unknown disse...

Great!

Obrigado pelo "maestro", hehehe...

E que venham mais 8, 80, 88 anos de boa música e amizades...

Cheers!
Mauricião

10/25/2006 6:37 PM  
Blogger Márcio J Fernandes disse...

Comecei a frequentar o Vox em 1998...
Estava na faculdade, e alguns colegas comentaram sobre a "casa" que tocava "tudo o que a gente gostava".
Época magistral. As mesas e cadeiras ainda eram aquelas de metal da Coca-Cola!
O visual dos frequentadores não era baseado em moda mas, sim, naquilo que toda uma geração de boa música embutiu em seus estilos de vidas.
Por falar em música, era díficl ouvir hits radiofônicos, situação que nos fazia permanecer na pista até o sol raiar e a praticamente ajudar os funcionários a colocar as cadeiras sobre as mesas no raiar da manhã.
Saudades de um tempo em que os anos 80 eram referenciados pelo seu lado menos conhecido e não pelo que programas de flashbacks ditam aos seguidores de plantão.
Ou seja: lado B, e não cena pra aparecr no "Altos Agitos" ou no "Bem na Foto"...

2/19/2009 6:57 PM  

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